terça-feira, 25 de agosto de 2009

PRÉ-CONCEITO

Essse vídeo nos impactou! Com este podemos notar que a ideologia estigmatizadora do pre-conceito ainda continua empregnada em nossa sociedade e a sua reprodução é nítida. O que faremos para que situações como estas sejam extintas???



Por seres humanos inteiros

Razão e emoção são imprescindíveis para empresas do novo milênio
Beethoven, Sheakespeare, Tchaikowski, John Nash e Sigmund Freud foram algumas das "companhias ilustres" da palestra Relações com resultado: onde razão e emoção se encontram. Carlos Faccina, professor da Business School São Paulo; o poeta Geraldo Carneiro, especialista em Shaekespeare; e o psicanalista José Ernesto Bologna, utilizaram a música, a poesia e a psicanálise para afirmar a importância de seres humanos integrais - munidos de razão e emoção -, para o mundo e para futuro das organizações.
Com uma apresentação multimídia, Faccina intitulou sua palestra como Sinfonia da Gestão e permeou sua fala com exibições de orquestras sinfônicas executando obras de Tchaikovsky e Bethoven, para comprovar que a sensibilidade e a emoção modificam a percepção do mundo. E exibiu trechos dos filmes Uma mente brilhante, biografia do economista John Nash, e de O Segredo de Bethoven, quando rege Ode à Alegria.
O professor comparou, ainda, o século XX ao novo milênio. No primeiro, as empresas tinham de responder às demandas reprimidas; precisavam produzir e entregar produtos das mais diversas naturezas; e esperavam atitudes racionais de seus colaboradores. Já no século XXI, além de terem que cumprir a produção de bens tangíveis, necessitam de valores intangíveis, de inovação, renovação, imprescindíveis para nova competitividade mundial. "Para criar esses novos valores é preciso compreender que razão e emoção são interdependentes, uma condição para a plenitude de novos talentos", afirmou.
Já Geraldo Carneiro, contou o início de sua carreira e como, quase por acaso, tornou-se tradutor do mais famoso dramaturgo inglês. Disse ainda que, com o advento do Renascimento, Sheakespeare talvez seja o inventor do ser humano, em sua complexidade, construindo personagens que compõem os arquétipos da humanidade até os dias de hoje. "Todos nós temos um pouco de Iago, Otelo, Hamlet e Ricardo III dentro de todos nós", ressaltou,
Depois do bardo inglês e de compositores de música clássica, José Ernesto Bologna abriu sua palestra brincando que foi acompanhado em toda sua vida por "um cara" chamado Sigmundo Freud. Citando falas dos palestrantes anteriores, o psicanalista enfatizou que as emoções precisam caber dentro das organizações. "Freud descobriu que o homem não é senhor de sua casa. O inconsciente existe, é preciso que haja um diálogo entre essas duas dimensões para que as pessoas sejam felizes", explicou Bologna. Segundo ele, é importante criar espaços tranqüilos, para que a criatividade possa fluir. "O século passado foi marcado pelo cientificismo de Darwin, Marx, Freud. Agora, inauguramos uma possibilidade, a de incluir a condição humana nas organizações - isso se formos muito corajosos", finalizou.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

ÉTICA - Notícias do CONARH 2009

    Certo ou errado?
Clóvis de Barros Filho explica o conceito de ética ao longo da historia
"Qual o sentido do universo?" Com essa provocação, Clóvis de Barros Filho, professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), iniciou a sua palestra Ética - discurso e prática. Em uma verdadeira aula de filosofia, Barros Filho comentou que a ética cristã, típica da Idade Média, partia do pressuposto de que cada pessoa tinha uma vocação e que devia ficar feliz com a missão que Deus havia lhe dado. O conceito de ética, presente nesse momento, era o de destino, no qual o livre arbítrio não existia. Ou seja, as pessoas não podiam fazer escolhas. Com a Reforma Protestante, de Martinho Lutero, tornou-se mais complicado definir o que era certo e errado: afinal, a nova igreja pregava o livre arbítrio e não via nada de pecaminoso em gerar lucros e ganhar dinheiro - enquanto a igreja católica afirmava ser "mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico ser recebido no reino do céu".
Em seu passeio pela história, Barros Filho explicou que, durante o Renascimento, a mesma confusão acima (entre o certo e o errado) aumentou: afinal, fazia sucesso a obra de Nicolau Maquiavel, O Príncipe, que aconselhava governantes e políticos de que era preciso fazer o que fosse, até mesmo utilizando meios escusos, para obter o que se desejasse - ação traduzida na emblemática frase "os fins justificavam os meios". "Age bem quem realiza algo que tem de ser feito. E o prestígio é aferido pelos ganhos ou perdas gerados pelo indivíduo", analisou Barros. Ou seja, o homem é senhor de seu destino e dono de seu livre arbítrio: o sucesso ou fracasso na vida dependem de seu desempenho. Já nos séculos 18 e 19, os filósofos ingleses Jeremy Bentham e Stuart Mill propuseram a seguinte teoria: produz bem quem sabe fazer bem-feito e age bem quem alegra a maioria.
Barros Filho acrescentou que o que mais dificulta o estabelecimento de um código de ética é que os homens estão sempre mudando seus pensamentos, bem como suas células. Como diz o filósofo grego Heráclito: "Um rio nunca passa pelo mesmo lugar duas vezes". Por isso, a dificuldade de se estabelecer um código de ética: não só os indivíduos se modificam ao longo dos dias, mas a sociedade também se altera e, consequentemente, é necessário estabelecer novos códigos de conduta. O que era válido no passado não é mais hoje. Tanto na sociedade quanto nas organizações. O professor da ECA conta que, antigamente, não se dava importância, nas companhias, em ser eticamente sustentável e não poluir, sendo o grande objetivo obter lucros cada vez maiores. Atualmente, a empresa que só se preocupa com os lucros e age de forma agressiva em relação à natureza não recebe bons olhares por parte de parte crescente da sociedade. "Ética não é estática e é preciso, de tempos em tempos, definir o que é certo e errado", concluiu.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

JEITINHO

"Jeitinho", expressão brasileira, é um modo de agir usado para driblar normas e convenções sociais. É uma forma de navegação social tipicamente brasileira, onde o indivíduo pode utiliza-se de recursos emocionais – apelo e chantagem emocional, laços emocionais e familiares, recompensas, promessas, dinheiro etc. – para obter favores para si ou para outrem, às vezes confundido com suborno ou corrupção.

Normalmente o indivíduo sabe que não é certo fazer determinada coisa e a faz. Porém, quando chega a punição é dado um jeitinho de se esquivar da responsabilização pelo ato, algo como "varrer a sujeira para baixo do tapete", por isto tem este nome. Pode-se citar alguns exemplos da longa lista de pequenos pecados que cometemos: Pagamento de taxa, para ser aprovado no exame para tirar a carteira de motorista, mesmo não sabendo dirigir com segurança.

Dar dinheiro para o guarda de trânsito anular a multa. Normalmente, para não ser preso, usa-se a frase "tem como dar um jeitinho", uma vez que esta não é considerada suborno. Deixar tudo pra ultima hora: pagamentos, inscrições, responsabilidades.
Considerar que o Honesto é um paspalho e que o Malandro é o bom e achar que a Honestidade deve ser combatida com desprezo e a corrupção "se dar bem" louvada como estilo de vida. Trabalhar pouco e querer ganhar muito, querer que os outros trabalhem em seu lugar e que paguem suas despesas. Baixar músicas, filmes ou ter softwares pirateados, e não pagar um só centavo aos produtores.


O jeitinho caracteriza-se como ferramenta típica de indivíduos de pouca influência social. Em nada se relaciona com um sentimento revolucionário, pois aqui não há o ânimo de se mudar o status quo. O que se busca é obter um rápido favor para si, às escondidas e sem chamar a atenção; por isso, o jeitinho pode ser também definido como "molejo", "jogo de cintura", habilidade de se "dar bem" em uma situação "apertada". Não deve ser confundido, porém, com malandragem, que possui seus próprios fundamentos.

Diversos personagens do imaginário popular brasileiro trazem esta característica. Um dos mais conhecidos é o
Pedro Malasartes, de origem portuguesa, profundamente enraizado no folclore popular brasileiro através do livro "Malasaventuras", escrito pelo paulistano Pedro Bandeira. João Grilo, personagem de Ariano Suassuna em O Auto da Compadecida, também carrega em si o jeitinho.

No livro "Dando um Jeito no Jeitinho", o prof. Lourenço Stelio Rega define jeitinho como uma saída para situações sem saída ou mesmo para uma situação que não se quer enfrentar, além disso, indica que o jeitinho não é só negativo (corrupção, levar vantagem, etc.), ele também tem um lado positivo. O autor demonstra isto indicando três características do jeitinho: inventividade/criatividade, função solidária e o lado conciliador do jeitinho.

Porém minha conclusão de que o carioca é metido a esperto não está na prática de crimes, mas sim naquelas ocasiões que o cara "dá o migué". Aquele jeitinho pra conseguir as coisas mais rápido, antes de todo mundo, e pelo menor esforço. E tudo geralmente devidamente acompanhado de uma historinha pra boi dormir.

Furar fila, trafegar pelo acostamento, pegar os atalhos mais improváveis para escapar do engarrafamento, entrar pela contramão no estacionamento do shoppping só pra pegar a vaga antes do outro, etc. Ou seja, esses pequenos desvios de conduta do dia a dia. Levar vantagem. Carioca não é considerado bandido, mas sim mestre em "dar jeitinho" (possivelmente vem daí a fama da "malandragem carioca").


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Genealogia da Malandragem

O brasileiro sempre tem um "jeitinho" para tudo. Saiba que relação existe entre a peculiar malandragem do brasileiro e a construção da Ética e da moral na visão de nietzsche. Por João E. Neto

Costuma-se apontar a corrupção como uma das maiores mazelas da sociedade brasileira. Geralmente, quando questionada acerca desse assunto, a opinião pública tem como alvo favorito de críticas a classe política. É curioso, no entanto, que boa parte dessas pessoas que avaliam negativamente seus representantes costuma recorrer, cotidianamente, a pequenos artifícios que burlam o costume ético e, muitas vezes, até a lei. Estamos nos referindo ao nosso jeitinho brasileiro, à malandragem e ao jogo de cintura, "categorias" que, já incorporadas à nossa cultura, convivem lado a lado com os valores ético-morais mais tradicionais. A "ética" do jeitinho e da malandragem coexiste, paralelamente, com a ética oficial. O cidadão que cobra dos políticos o cumprimento dos preceitos da ética tradicional é o mesmo que usa o expediente do jeitinho e da malandragem.

Ao contrário dos personagens malandros de nossa história, geralmente matutos desprivilegiados, Zeca, de Caminho das Índias (Globo), é um garoto de classe média que, apoiado por seus pais, usa sua malandragem não por sobrevivência, mas para perturbar os outros e com a certeza de impunidade.


Claro que a desonestidade não é uma exclusividade nacional. Mas é interessante ressaltar a peculiaridade brasileira na admissão das "categorias" jeitinho e malandragem como elementos paradigmáticos à ação "moral". No nosso país, curiosamente, exaltam-se, ao mesmo tempo, dois tipos aparentemente incompatíveis: o honesto e o malandro. Nesse sentido, como bem observou o antropólogo Renato da Silva Queiroz, a cultura brasileira é permeada por uma ambiguidade ética em que termos como "honesto", "corrupto", "esperto", "otário", "malandro" e "mané" se misturam num confuso caldeirão moral. Esse caráter peculiar de nossa sociedade exige-nos alguns questionamentos: o que levou a cultura brasileira a essa ambiguidade moral? O que fez que nossa sociedade cultivasse certa glorificação da malandragem? E mais: será que essa exaltação do tipo "malandro" tem sido proveitosa para o Brasil? Ela tem contribuído para o engrandecimento de nossa cultura ou para sua degeneração?

No final do século XIX, o filósofo Friedrich Nietzsche se propõe a realizar uma crítica dos valores morais e, com isso, inaugura o seu procedimento genealógico. Rompendo com a tradição metafísico-religiosa que considera os valores como sendo eternos, universais e imutáveis, o pensador alemão passa a pensá-los por um viés histórico. Ou seja, no entender de Nietzsche, os juízos de valor, antes concebidos como absolutos, teriam sido, na verdade, criados numa determinada época e a partir de uma cultura específica. Tomando como ponto de partida essa perspectiva, o pensador alemão enxergou a necessidade de realizar um exame acerca das condições históricas por meio das quais os valores foram engendrados. E coloca as seguintes questões: de que forma esses paradigmas morais teriam sido gerados? Por quais povos e em que época? Em que condições se desenvolveram e se modificaram? Para efetivar essa investigação, Nietzsche põe a seu serviço os recursos da História, da Filologia, e da Fisiologia.

Apesar disso, ao recorrer a essas disciplinas, o filósofo não assume o papel de um cientista positivista, que busca fatos históricos, fisiológicos ou antropológicos. Nietzsche está longe de ser um pensador, que se pretende isento e "objetivo". Para ele, a investigação genealógica já é um procedimento que se realiza a partir de uma determinada perspectiva valorativa. Sua análise deve ser entendida como uma hipótese interpretativa que tem como pano de fundo o referencial das ciências, mas não como um método científico que se embasa em fatos.

João E. Neto é graduado e mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), doutorando em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), bacharel em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e membro do Grupo de Estudos Nietzsche (GEN.

A Filosofia do Jeito – um modo brasileiro de pensar com o corpo



A filosofia do jeito por Fernanda Carlos Borges


A filosofia não é um objeto que algumas pessoas possuem ou dominam, a filosofia é uma competência humana: a capacidade para conceber o mundo na medida em que orientamos nossa percepção e nossas ações, enquanto produzimos sentidos. Esta capacidade acontece com um corpo que precisa assumir posição diante das urgências do cotidiano, caso contrário ficamos desnorteados - sem norte, sem orientação: mal posicionados.
A filosofia no Brasil não tem um apelo popular: poucas pessoas se interessam pela filosofia oficial. Mas será que os brasileiros que não se interessam por filosofia ou é uma filosofia feita entre nós que não tem muito interesse pelos brasileiros?

O filosofar ocorre na rua porque na rua é urgente posicionar-se: é preciso achar o jeito. O jeito é a síntese da relação entre nosso sistema sensório-motor e a situação. Situação significa uma relação espaço-temporal: tanto a concepção de uma idéia quanto a sua compreensão correspondem à percepção de uma ação em curso ou ação possível.

Acreditar que o corpo situado não pensa faz legitimar uma relação de poder onde uma razão incorpórea deve dominar o corpo, do mesmo modo que o espírito deve dominar a natureza, o adulto deve dominar a criança, o homem deve dominar a mulher, o patrão deve dominar o empregado, os países “intelecualizados e modernos” devem dominar os “países primitivos e atrasados”. Trata-se de um sistema hierárquico onde um núcleo autoritário centraliza o poder.

No Brasil, convivemos com uma noção diferente do corpo, valorizamos muito o jeito de uma pessoa, ele chega a ser um critério para darmos ou não um “jeitinho”. A expressão jeitinho apareceu na primeira metade do século XX, com o processo de modernização industrial do Brasil, quando o brasileiro, acostumado com a vida social apoiada nas relações pessoais, viu-se repentinamente transformado em indivíduo. O indivíduo não tem jeito: os critérios de relação social entre indivíduos estão apoiados na imparcialidade. O jeito do corpo importa nas relações com o caráter afetivo. Para o indivíduo, o importante é a autonomia preservada pela imparcialidade normativa.

A grande mídia trabalha com a idéia de que somente o indivíduo imparcial será capaz de nos “levar para frente”. E tudo que acontece de errado nas nossas instituições privadas ou políticas (corrupção, suborno, rabo preso, etc.) é tratado como culpa do jeitinho, que não é uma prática “moderna” e revelaria nosso atraso. No entanto, a especificidade do jeitinho é priorizar a afetividade em algumas circunstâncias, apesar da norma.

O jeitinho não é conseqüência de um “atraso” por não sermos indivíduos imparciais. Ele envolve uma outra visão de homem e organização humana. Só damos um jeitinho para quem sabe pedir com um jeito: com humildade, simpatia, urgência diante de uma imprevisibilidade. Diante de um jeito superior ou arrogante não damos um jeitinho, invocamos a lei. Portanto, ele revela um critério ético e uma axiologia sobre um modo de ser no mundo: este modo de ser aceita a participação da imprevisibilidade, da fragilidade, da afetividade e da invenção dentro das organizações.

A supervalorização da norma sobre a afetividade acompanha a antiga separação hierárquica entre o saber erudito dos sacerdotes das cidades e o saber popular dos camponeses. Hoje equivale ao sério problema da separação entre a produção intelectual e a urgência da rua.

O jeitinho, antes de ser um reflexo do nosso atraso, revela uma alternativa ao modo de vida do indivíduo, que está sempre comprometido antes de tudo com o seu sucesso pessoal. Pode ser entendido como uma resistência apoiada num filosofar que acontece na rua e não nos gabinetes dos eruditos. O jeitinho pode ser visto como uma resistência ao modelo coercitivo, competitivo, exclusivo e imparcial do capitalismo. Resiste no fundamento deste sistema: na concepção do ethos humano. Este ethos é continuamente bombardeado pela grande mídia, quando tudo que não presta é associado ao “jeitinho brasileiro”, fazendo-nos acreditar que o homem que somos é incapaz de gerenciar nossos recursos e nosso destino.

No entanto, o jeitinho pode ser compreendido como uma resistência anarquista: não enfrenta o jeito representativo do pai com outro jeito representativo - ele boicota. Não é trágico, mas bem humorado: revela a capacidade do corpo rir das ilusões invulneráveis do espírito. A aceitação da imprevisibilidade e da fragilidade humana nas situações onde se dá um jeitinho implica na aceitação da nossa condição de corpo. É o corpo que pode pegar uma febre, ficar preso num pneu furado, ser tocado por uma circunstância. Nesta condição corporal está a possibilidade de uma participação não autoritária, que permite enxergar um palmo diante do nariz dentro das forças da situação.

A dificuldade de localização com relação às forças da situação corresponde a uma alienação do espaço-tempo, uma alienação corporal. A campanha autoritária a favor do modelo da sociedade moderna estadunidense e seu ideal de homem como indivíduo dificulta a percepção das nossas forças culturais, epistemológicas e éticas, conduzindo a atenção para um espaço-tempo alheio, produzindo atitudes alienadas: mal situadas.

O jeitinho brasileiro acompanha a potência mítica da guerra holandesa - como disse Oswald de Andrade - quando nossa cultura órfica, híbrida e mulata confrontou os holandeses, representantes do lucro e da ascensão da burguesia com seu Deus cioso e exclusivista - e vencemos!

Portanto, a visão de homem, implicada no jeitinho e no jeito do corpo, acompanha uma utopia, um futuro possível que sugere um sistema democrático, cooperativo, socialista, instável e apoiado na intercomunicação. E, por incrível que pareça, se aproxima da utopia do sol desenvolvida pela escola da biomassa: um corpo situado na natureza tropical, capaz de produzir uma cultura movida pela energia vegetal que, associada a uma reforma agrária, produzida pela pequena agricultura e comercializada por nós, favorecerá um modo de vida diferente da vida urbana dos indivíduos: mais rural e cooperativo, com homens capazes de dar um jeitinho, comovidos com o jeito de um corpo. Este é o confronto mítico da nossa contemporaneidade.


Fernanda Carlos Borges é filósofa e autora do livro “A Filosofia do Jeito – um modo brasileiro de pensar com o corpo”.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Virtudes básicas profissionais

Comentário do Texto: SÁ,A.L. Virtudes básica profissionais.São Paulo:Atlas.[s.m.r.].


Segundo o autor do texto, existem virtudes, denominadas básicas, cujo impacto nas práticas profissionais provocarão uma maior eficácia no seu exercício. Neste sentido, a execução de forma ética dos princípios que regem o bom exercício de uma profissão passará, portanto pela aplicação de princípios básicos e comuns a qualquer profissão e serviços prestados. Neste sentido, o autor destaca quatros pilares essenciais: zelo, honestidade, sigilo e competência. Não excluindo, por sua vez, outras virtudes denominadas por complementares.


A primeira virtude levantada pelo autor é o zelo. Segundo o texto, o zelo aqui descrito parte de uma responsabilidade individual e tem inicio na relação do profissional e seu objeto de trabalho. Nesse sentido, o profissional deve utilizar todos os recursos e meios disponíveis para atender ao seu objeto. Assim, é possível entender que, uma vez aceito, o profissional deve ir até o final, caracterizando assim um pacto mediado a partir de um contrato estabelecido entre ambas as partes, tendo como objeto exclusivamente o cumprimento do trabalho assumido pelo profissional. Opiniões precipitadas, sem levar em consideração as possíveis conseqüências também podem caracterizar uma negligencia que no âmbito de uma relação e significa a falta de ética e zelo profissional.




A seguir, a honestidade apresenta-se como um elemento decisivo na relação profissional, uma vez que traduz a confiança depositada por terceiros a alguém. Portanto,segundo o autor, não há espaço para atitudes e comportamentos tidos como “pseudos - honestos”., honestidade circunstancial, tampouco maior ou menor grau de honestidade. Posturas onde a confiança não esteja num patamar explicito poderá gerar entraves na relação profissional, e caracteriza por assim dizer, a diminuição do alcance ético em tal relação.







O sigilo profissional aparece por assim dizer como uma reserva essencial para que o zelo e a honestidade encontrem no sigilo uma aliada essencial na manutenção do vinculo profissional e objeto. A quebra do sigilo, revela uma grave dificuldade de expressão de uma ética essencial em qualquer profissão, no que se refere a profissional e seu objeto.





Por fim, a virtude da competência resume de forma convincente a relação das virtudes citadas anteriormente.A eficiência e a eficácia na realização de um trabalho tem a ver com o exercício do conhecimento de forma adequada e pertinente a um trabalho.



Assim, para o autor “O importante eticamente , (...) é que a tarefa seja executada dentro do que há mais evoluído e em favor do utente, de modo a proporcionar-lhe menores custos e maior capacidade de aproveitamento do trabalho.”

“Uma verdade inconveniente”, de Al Gore.


Em linhas gerais, o filme “Uma verdade inconveniente” nos faz um convite para uma reflexão não só sobre nossa postura diante ao planeta Terra, mas também traz uma ponderação quanto a nossa postura diante de si mesmo e do outro.

O autor utiliza as discussões sobre o aquecimento global, de uma forma bastante contundente e aprofundada conceitualmente, eliminando assim a possibilidade de entendimento de que se tratava apenas de uma discussão do movimento ambientalista ou mesmo superficial. Os dados levantados mostram a gravidade do tema e aponta os possíveis responsáveis e as respectivas possibilidades de resolução.

A seqüência de imagens e gráficos demonstram de forma convincente os efeitos, em escala mundial, dos acontecimentos que cercam o meio ambiente. Os depoimentos e acontecimentos da vida pessoal de Al Gore, seja na infância, seja no senado americano, ou no processo eleitoral trazem momentos elucidativos para a compreensão da sua opção pela “cruzada” em prol das questões ambientais pelo mundo. Seja portanto quando se deu o acidente com seu filho , seja quando Al Gore apresenta sutilmente a idéia de que o povo americano poderia ter optado por sua candidatura a presidência dos estados Unidos por se tratar de alguém capaz de “resolver” o problema, em relação ao seu opositor. Tal analise, contudo, não inviabiliza o teor do filme, a proposta geral levantada com a riqueza de detalhes e informações aqui já comentados.

Para efeito de reflexão, o filme analisa o papel da humanidade, e dos homens e mulheres individualmente, frente a questões globais de tamanha magnitude, quanto à sua própria existência. Valores individuais são confrontados quando se pensa as complexas conjunturas inerentes à sociedade humana, ou seja, nações que disputam espaços hegemônicos no âmbito político, econômico e territorial, gerando assim uma luta desenfreada sem limites, no ambiente micro ou macro.

O planeta Terra passa então a ser entendida apenas como uma “coisa” apenas a disposição dos ditames senhoriais, o que leva a pensarmos que, para alem de uma mudança de atitude perante o planeta, teremos que nos esforçar para uma mudança coletiva capaz de provocar mudanças em escala mundial, mudança na forma de conceber o outro, conceber o ambiente e conceber a razão da existência humana , no presente e futuro. Aqui fica explicito que há um componente significativo na ordem de valores éticos e morais secularmente traduzidos como “normais” e que necessitaram sofrer abalos em seus pilares.

Ora, o que é bom para mim, ou para minha nação, necessariamente não será o melhor para o outro. Então pensando localmente, sem perder o global, estará a humanidade dando um passo importante para entendermos a mensagem obvia explicita nas palavras do ex- vice-presidente norte americano Al Gore em sua cruzada mundial. Neste momento, portanto, as possíveis verdades deixarão de ser tão inconvenientes e passarão a ser tornar absolutamente necessária. Que seja tão logo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O que é Ética?

A palavra "Ética" é do termo grego ethos, que significa o conjunto de costumes, hábitos e valores de uma determinada sociedade ou cultura e que segundo Marcondes (2007), a ética de forma ampliada corresponde a determinações do que seria certo ou errado, bom ou mau, permitido ou proibido dentro de padrões, normas ou valores adotados historicamente por uma determinada sociedade. De acordo com Kant, a postura ética está condicionada ao princípio "Age de tal forma que tua ação possa ser considerada lei universal". ou seja "não faça ao outro aquilo que não queres que façam a ti".


domingo, 2 de agosto de 2009

FELICIDADE

Ao lado de uma ‘Carta a Heródoto’ e de uma ‘Carta a Pítocles’, esta ‘Carta a Meneceu’, de Epicuro a outros de seus discípulos, é mais conhecida como ‘Carta sobre a felicidade’, já que versa justamente sobre a conduta humana tendo em vista alcançar a ‘saúde do espírito’.

Esta “Carta sobre a felicidade” traça a estrutura do epicurismo. A carta versa sobre a conduta humana, tendo em vista almejar a “saúde do espírito”. Faz uma exortação à filosofia, considerada como disciplina cuja a meta é tornar feliz o homem que a pratica.


CARTA SOBRE A FELICIDADE (a Menescau)
Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.
Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.
Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.
Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção a noção que têm dos deuses. Ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.
Acostuma-se à idéia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.
Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.
Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no momento, a maioria das pessoas a foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.
O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um mal.
Assim, como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que breve.
Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem não passa de um tolo, não só pelo que a vida tem de agradável para ambos, mas também porque se deve ter exatamente o mesmo cuidado em honestamente morrer. Mas pior ainda é aquele que diz: bom seria não ter nascido, mas uma vez nascido, transpor o mais depressa possível as portas do Hades.
Se ele diz isso com plena convicção, por que não se vai desta vida? Pois é livre para fazê-lo, se for esse realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira, foi um frívolo em falar de coisas que brincadeira não admitem.
Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais.
Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.
Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. de fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir.
É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.
Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.
Consideramos ainda a auto-suficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.
Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita.
Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não é só conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temos as vicissitudes da sorte.
Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam as pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é a ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma. Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos. De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ele é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça sem felicidade. Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.
Na tua opinião, será que pode existir alguém mais feliz do que o sábio, que tem um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, e que o mal supremos ou dura pouco, ou só nos causa sofrimentos leves? Que nega o destino, apresentado por alguns como o senhor de tudo, já que as coisas acontecem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso instável, enquanto nossa vontade é livre, razão pela qual nos acompanham a censura e o louvor?
Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos naturalistas; o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma necessidade inexorável.
Entendendo que a sorte não é uma divindade, como a maioria das pessoas acredita (pois um deus não faz nada ao acaso), nem algo incerto, o sábio não crê que ela proporcione aos homens nenhum bem ou nenhum mal que sejam fundamentais para uma vida feliz, mas, sim, que dela pode surgir o início de grandes bens e de grandes males. A seu ver, é preferível ser desafortunado e sábio, a ser afortunado e tolo; na prática, é melhor que um bom projeto não chegue a bom termo, do que chegue a ter êxito um projeto mau.
Medita, pois, todas estas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens. Porque não se assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive entre bens imortais.
Epicuro *

Do livro: “Carta sobre Epicuro”, Editora Unesp, ed. bilíngue, grego/português, tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore, 1997, SP Enviado por: Lau Siqueira ______ * Epicuro nasceu em 341 a.C, na ilha grega de Samos.